sábado, 3 de abril de 2010

Antigas Escrituras

Sábado. Noite. Dezesseis. Dez versos de dúvidas e seis notas de medo. Agosto na minha sala e no meu mundo. Eu não sabia que aquele vento me cortaria a alma e a calma. Mesmo assim segui passos largos e armados. Na estação, nos vagões e na velocidade do ocaso, eu vivia o antes do princípio, o antes da história que correria em minhas mãos sedentas de tempo. Nos olhares dos que comigo vagavam e "vagueavam", um tanto de medo, restos de alegria, sinais de ternura, e também um pouco do desalento que o breu noturno traz. O vento que invadiu a noite deve ter revirado algumas daquelas vidas, da minha, inclusive. Ah, o vento... Se soubesse da minha partida, d'alma partida... Não teria uivado. Não teria assanhado meus cabelos, ateado fogo no castanho dos meus olhos, tampouco revirado a minha pobre memória. Eu gritava ao ar que me assolava. Meu rosto, gélido. Mas dentro da minha pele não havia frio, porque do outro lado de mim tudo queimava, abrasava. Ainda que pobre, ela voltava: sim, a memória retornava incinerada. E como num jogo em que se precisa ir e vir, dar voltas e andar em círculos, eu seguia. Olhava para trás e girava. Carrossel de sonhos e enganos. Perdas e ganhos. Fiz cálculos. E como se faz numa equação eu precisava desvendar o que fora vendado. Eram incógnitas todas as minhas dúvidas e medos. Preciso declamá-los e entoá-los; pesá-los e medi-los. No gosto de agosto que se esvai nessa noite de sábado.

LiteraSamba